domingo, 5 de abril de 2009

Um pouco de Junqueira Freire

Nome literário: Freire, Junqueira

Nome completo: Luís José Junqueira Freire

Nascimento: Salvador (BA), em 31 de dezembro de 1832.

Falecimento: Salvador (BA), em 24 de junho de 1855

Biografia: Luis José Junqueira Freire era filho de José Vicente de Sá Freire e Felicidade Augusta Junqueira, teve a infância e a juventude comprometidas por problemas de ordem cardíaca, fato que o levou a concluir os estudos primários de forma irregular.
Em 1849 matriculou-se no Liceu Provincial, onde cursou Humanidades e se destacou como um excelente aluno, grande leitor e poeta. Por pressões familiares e motivado pelas inconstâncias da própria vida, ingressou na "Ordem dos Beneditinos" dois anos mais tarde, em 1851.
Nas clausuras do Mosteiro de São Bento de Salvador, o jovem Junqueira Freire não manifestava a menor vocação monástica. Este período de sua vida foi repleto de amarguras, revoltas e arrependimentos pela decisão irrevogável que tomara. Porém, pôde fazer suas leituras preferidas e dedicar-se a escrever poemas, além de atuar como professor atendendo pelo nome de Frei Luís de Santa Escolástica Junqueira Freire.
No ano de 1853 pediu a secularização que seria outorgada apenas no ano seguinte. Este recurso que lhe permitiria libertar-se das disciplinas monásticas, embora ainda permanecesse sacerdote por força dos votos perpétuos. Assim, recolheu-se a casa de sua mãe onde redigiu uma breve autobiografia, que manifestava um agudo senso de auto-análise. Paralelamente, dedicou-se a reunir uma coletânea de seus versos, que viria a ser intitulada Inspirações do Claustro. Esta obra foi impressa na Bahia pouco tempo antes de sua morte, ocorrida em 24 de junho de 1855, aos 23 anos, motivada pelas enfermidades cardíacas de que sofreu por toda a vida.
Franklin Dória, que fundou a Cadeira nº 25 da Academia Brasileira de Letras, escolheu Junqueira Freire como seu patrono.

Características literárias: Sua obra lírica divide-se em religiosa, amorosa, filosófica, popular (ou sertaneja) e alguma poesia social, de tom declamatório, precursora de Castro Alves.
As dramáticas e desesperadas experiências que Junqueira Freire passou dentro do sacerdócio, e dentro do convívio familiar, irão refletir-se em toda a sua obra poética, fortemente autobiográfica. Nela se pode constatar a notória crise de morais e conceitos com que a igreja convivia no século XIX, refletida nos seus versos, onde é marcante todo o seu conflito entre a vida religiosa e a revolta com os fatos que presenciou dentro dela. Sua falta de vocação e seu desejo ardente pelos prazeres do mundo também são expressos com um forte lirismo e ao mesmo tempo com um constante pessimismo e tristeza. O amor, contrastando com a sexualidade reprimida, a consciência do pecado e o sentimento de culpa, levam-no várias vezes a desejar ardorosamente a cura e o alívio da morte, dando-lhe a afinidade de uma amiga portadora da paz eterna – como se vê em um dos seus poemas mais conhecidos: Morte.
Embora pertencente ao Romantismo, Junqueira Freire teve, no entanto, uma ligação ainda muito forte com o estilo neoclássico, o que tornou suas poesias carentes de uma fluência mais romântica, ou seja, mais melodiosa, com versos mais livres. Seu estilo mais preso, de caráter mais rígido, não lhe permite expressar todos os seu sentimentos de forma mais solta e intensa.
Sua única obra de poesias, as "Inspirações do Claustro (1855), tem grande valor de testemunho das experiências interiores passadas pelo autor em sua breve vida: o desgosto na casa dos pais as ilusões sobre a vocação monástica as dúvidas e desesperos nos dois anos em que permaneceu na Ordem.
A obra de Junqueira Freire mereceu um louvor, mas também uma crítica, por parte de Machado de Assis: foi louvada pela forma sincera como retratou todo o drama de um indivíduo preso a uma falsa vocação; crítica ao modo dessa poesia, que caiu no genérico e prosaico, ficando abaixo da síntese conteúdo-forma. Uma prova de sua dificuldade em conciliar intenções e forma é "À Profissão de Frei João das Mercês Ramos", onde expõe o fracasso de sua vocação. Porém, sua obra também apresentou alguns momentos felizes, nos quais lhe foi benéfica a aproximação com fontes populares e outros, nos quais sua concepção anacrônica do verso se ajustou a uma poesia mais racional (de pensamento) que de sensibilidade.

Obras (principais):
1855= Inspirações do Claustro
1869= Elementos de Retórica Nacional
1944= Obras, edição crítica por Roberto Alvim, 3 vols.
1976= Junqueira Freire, organizado por Antonio Carlos Vilaça (Coleção Nossos Clássicos, n. 66)
1976= Desespero na Solidão, organizado por Antonio Carlos Vilaça1970= Obra Poética de Junqueira Freire